Entrevista a Sílvia Alberto

26-01-2016 21:35

 

A apresentadora concedeu uma entrevista ao OLHAR DIREITO sobre a carreira e os hábitos dos portugueses relativamente ao consumo de televisão. Sílvia Alberto esclarece que o telespectador português adere facilmente a um novo programa, mas rapidamente se interessa por outro. A novidade funciona a favor e contra para quem pretende singrar no "mundo televisivo". 

 

"Os portugueses são ávidos pela novidade, mas também perdem o interesse facilmente"

 

Como nasceu o gosto por trabalhar em televisão?

O gosto terá surgido com a prática. Da elaboração de peças na SIC, à colaboração na edição das mesmas, mas principalmente pela possibilidade de explorar características que sempre me foram inatas, como a comunicação, a tertúlia, o ocupar os tempos livres das pessoas com o entretenimento.

Na tua opinião a televisão ainda tem poder sobre as pessoas?

Creio que o meio audiovisual é poderoso tanto quanto continuar a funcionar como formador de opinião de um largo espectro de pessoas. Notícias, reportagens, entrevistas são o veículo para a expressão da diversidade de ideias e, como tal, podem gerar mudanças no pensamento dos espectadores.

O que aprendeste de mais relevante na SIC e RTP?

Na SIC aprendi que se pode fazer rápido e bem, e que as despedidas são muito mais difíceis do que pudesse imaginar. Aprendi que dizer não é fundamental para manter o controlo sobre a própria vida e para não nos frustrarmos a fazer coisas que não queremos. Na RTP aprendi a dar importância a todas as peças que compõem um programa, a ver os rostos por trás das funções e a misturar-me nas equipas. No fim do dia conta o que fizemos com o nosso tempo e com quem o aproveitámos. Aprendi que saber esperar é uma virtude que tem francas recompensas.

Qual foi o programa que mais gostaste de fazer? 

A Operação Triunfo. A adrenalina de comandar as galas em directo é inigualável.

E o que teve mais impacto sobre as pessoas? 
Os Ídolos porque representaram uma novidade a todos os níveis. O formato vivia os seus tempos áureos, a abordagem à época era irreverente, os jurados inesperados, os apresentadores, jovens e brincalhões.

Aquele em que as expectativas não se concretizaram? 

Talvez o “Não me sai da cabeça”. Resultou num produto, na minha opinião, muito interessante, bem realizado, bem produzido, esteticamente apelativo e divertido. Esperava que tivesse mais longevidade, mas surgiu entre mudanças de direcção, e perdeu-se na ausência de promoção. Acho que merecia ter tido seguimento.

Ainda sentes nervosismo perante as câmaras?

Menos, mas o bastante para me lembrar diariamente o compromisso de seriedade que tenho com o meu trabalho.

O público português tem facilidade em aderir a um novo programa televisivo?

Os portugueses são ávidos pela novidade, mas também perdem facilmente o interesse. O espectador é curioso e é difícil mantê-lo cativado. Estamos numa altura em que tem sempre de haver uma surpresa, um elemento cómico ou uma reviravolta. Não é tempo de televisão para contemplação. A dificuldade, parece-me, não está em cativar pela novidade, mas em comunicar a novidade, em espalhar a palavra de forma apelativa e eficaz.

Estamos perante um público dependente da televisão?

De todo. Creio que a oferta de ocupação de tempos livres, quando o português comum os tem, é bastante diversificada. Longe vai o tempo em que no dia seguinte não havia alma que não tivesse assistido ao programa de domingo à noite.

As pessoas preferem ver televisão em vez de ler um livro?

Acho que tendencialmente preferem navegar nas redes sociais e fazer pesquisas na internet. Pontualmente procuram um programa ou série a que assistem com alguma regularidade e de acordo com a sua disponibilidade, principalmente quando o contrato com o seu operador de telecomunicações lhes permite gravar ou procurar nos últimos sete dias os seus programas favoritos. Um nicho de apreciadores, ou quem trabalha diariamente com as letras, lê. O comum espectador também lê, artigos e notícias online e mais esporadicamente, nas férias ou ao deitar, lê um livro. Mas esta é só a minha opinião.