Entrevista a Sara Pinto

23-01-2018 15:07

A jornalista explica ao OLHAR DIREITO os desafios da profissão, bem como as principais dificuldades de conduzir uma emissão em directo. Sara Pinto também revela as diferenças entre trabalhar no estúdio e efectuar reportagens no terreno, comprovando que são duas tarefas com métodos bastante distintos, só perceptível pelos profissionais. Na entrevista partilha um momento interessante relativamente à forma como os parisienses reagiram aos atentados de Novembro 2015.

 

"No terreno estamos por nossa conta na recolha de informações e na procura de histórias interessantes"

 

Como nasceu o gosto pelo jornalismo?

Nasceu pela teimosia do meu pai que insistia sempre em ver o telejornal à hora das refeições. Quando era pequena não gostava nada disso porque não percebia os assuntos abordados nas notícias. Nesse momento, decidi que um dia ia ser eu a falar naquela caixinha e a perceber todos aqueles temas complexos.

Porque optaste por trabalhar em televisão?

Sempre foi a minha primeira escolha, apesar de em pequena ter uma rádio "caseira" com direito a jingle e tudo: "Rádio Banana, a rádio que não engana"! Eu e o meu primo improvisámos um estúdio de rádio na sala e passávamos os sábados à tarde a fazer emissões apenas com um gravador. Mas a minha escolha foi sempre a televisão, porque é um meio de comunicação que concilia imagem, som e texto. Exige um trabalho mais complexo e também por isso mais desafiante.

Qual é o trabalho que gostas mais de realizar?

O que gosto mais de fazer são emissões de última hora porque a adrenalina do breakingnews é muito desafiante, além de procurar informação em directo e ajudar os telespectadores a perceber, no momento, aquilo que se está a passar. Nestas alturas sinto a importância da minha função.

Quais são os principais desafios de conduzir uma emissão em directo?

O facto de conduzir entrevistas num tempo limitado. Tenho de conseguir levar a conversa para os assuntos que quero no período de tempo previamente definido. Uma tarefa que requer concentração e foco porque não há segundas oportunidades nem a possibilidade de editar a entrevista.

Quais são as diferenças entre trabalhar no terreno ou no estúdio, mesmo estando em directo?

Comecei o trabalho em televisão como repórter e isso ajudou-me na altura em que tive de ir para o estúdio. No terreno não há teleponto, nem suporte da régie ou da produção. Estamos por nossa conta na recolha de informação rigorosa directamente junto das fontes e na procura de histórias interessantes, sem o conforto do estúdio.

Qual o momento profissional que ainda recordas?

Infelizmente, os momentos profissionais que me marcaram estão relacionados com más notícias. Recordo o ambiente que vivi em Paris nos dias seguintes aos atentados em Novembro de 2015. Dois dias depois, a cidade ainda estava em estado de sítio porque sentia-se medo e angústia nas pessoas. Uma noite perguntei a um empregado de um restaurante se não tinha medo, e ele respondeu que "Paris é a cidade do amor e o amor é mais forte". Guardei a resposta na memória, bem como uma rosa que me ofereceu para lembrar que, no meio do caos e do terror, haverá sempre um sentimento bom que é mais forte.

Qual é o papel do jornalista?

Informar, explicar e denunciar.

Quais são os desafios actuais do jornalismo?

O risco de desinformação das redes sociais e do cidadão-jornalista. Não podemos pensar que qualquer pessoa com um telemóvel e ligação à Internet pode ser jornalista. O rigor na informação deve ser uma aposta dos meios de comunicação social tradicionais para marcarem posição face às novas realidades.

A tecnologia é a única culpada pela falta de investimento no sector?

A crise económica também ajudou. A tecnologia deve ser vista como um desafio e uma possibilidade de evolução do sector, aumentando a presença nas redes sociais onde há espaço para a televisão, rádio e jornais.