Entrevista a José Milhazes
O jornalista José Milhazes vai lançar um novo livro intitulado "Rússia-UE: uma parte do todo" no próximo dia 27 de Janeiro na Sala dos Arquivos da Câmara Municipal de Lisboa, tendo aceitado falar sobre o tema da obra para o OLHAR DIREITO. As relações da Rúsisa com a União Europeia deterioraram-se após a separação da Ucrânia em 2014, mas ainda existem motivos suficientes para uma aproximação entre os dois blocos. A entrada de um novo inquilino na Casa Branca também pode modificar a actual política norte-ameircana relativamente a Moscovo.
"Moscovo representa uma ameaça no sentido em que desrespeita as fronteiras existentes no Velho Continente"
Por que razão decidiu escrever o livro?
Foi-me feito o convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos e eu aceitei, tanto mais que em português há muito poucos trabalhos sobre o tema.
Na sua opinião, em que áreas a Rússia e a União Europeia deveriam colaborar?
Em todas as áreas possíveis: económica, política, social, combate ao terrorismo, integração europeia, etc.
Qual seria o papel dos Estados Unidos?
O papel dos Estados Unidos manter-se-ia tanto no que diz respeito à Europa e à Rússia. Uma maior cooperação entre a UE e a Rússia não implica obrigatoriamente uma redução da cooperação entre a UE e os EUA.
O que tem falhado para haver mais cooperação?
Perspectiva para o futuro. Por um lado, a Rússia realiza uma política externa agressiva e demasiadamente dispendiosa para a sua capacidade económica, Moscovo quer ter um papel hegemónico e quase absoluto no antigo espaço soviético. Por outro lado, a União Europeia não tem uma política externa e de segurança comum. Criou demasiadas expectativas em países como a Ucrânia, mas mostra-se incapaz de resolver os problemas.
Trata-se de uma questão de lideranças?
Em grande parte sim. Neste momento há políticos que lutam por vitórias nas eleições, têm perspectivas de curto e médio prazo, são mesquinhos. Além disso, as máquinas burocráticas são cada vez maiores, o que impede reacção rápida aos problemas.
Acredita que a questão ucraniana já está devidamente ultrapassada?
Neste momento, a questão ucraniana está apenas "congelada". Será um longo e difícil caminho.
Em que medida Moscovo representa uma ameaça para a União Europeia e vice-versa?
Moscovo representa uma ameaça no sentido em que desrespeita as fronteiras existentes no Velho Continente. Quanto à UE, neste momento, ela é apenas uma ameaça a si própria, não tem forças nem meios para mais.
O novo presidente da Casa Branca poderá mudar a relação com Moscovo?
Depende de como evoluir a situação internacional, mas a relação será mais fácil se vencer um candidato republicano, com quem os russos se dão sempre melhor.