Entrevista a Débora Rocha

29-08-2018 14:07

A especialista de marketing em redes sociais tem uma perspectiva bastante positiva relativamente ao futuro das relações pessoais e profissionais através da evolução tecnológica. Débora Rocha acredita que, nos dias de hoje, a utilização das novas ferramentas e plataformas criam mais benefícios do que prejuízos para as pessoas e empresas, embore coloque algumas reticências sobre a melhor maneira de regular a privacidade. O optimismo também se estende ao surgimento da Inteligência Artificial.

 

"A Inteligência Artificial é uma evolução natural e muito útil para a nossa espécie"

 

Em que sectores de actividade as redes sociais ganharam mais importância?

As redes sociais mudaram a forma como as pessoas se relacionam e pensam, com um significado relevante no seu dia-a-dia. O impacto na área comercial e retalho é um dos mais evidentes porque não só anunciam os produtos e serviços, como criam lealdade nos seus consumidores tornando-os muito próximos das marcas. A personalização da experiência online e a interatividade são dois conceitos-chave que importam realçar neste setor.

Quais foram os principais benefícios que decorreram da evolução tecnológica?

A evolução tecnológica trouxe proximidade às pessoas porque podem comunicar de forma instantânea e ter acesso a informação publicada no momento. Existe um novo ciclo informacional que é mais rápido e até partilhado em directo, além de ser acessível em qualquer parte do mundo através de um telemóvel. A Internet estimula a criatividade e o desenvolvimento de novos projetos. Atualmente é possível iniciar um negócio online e criar pontos de partilha como ações de crowdfunding. No ensino, o processo de aprendizagem tornou-se mais rico, conveniente e divertido.

E os prejuízos?

Existe uma perda de privacidade devido à vontade de a maioria das pessoas publicarem e partilharem aspectos relacionadas com a vida pessoal sem terem muita noção do impacto no longo prazo. Em muitas situações não existe a possibilidade de protecção de fenómenos como o stalking, bullying e assédio por algo vergonhoso que publicou.

De que forma as novas ferramentas tecnológicas mudaram as relações pessoais e profissionais?

As pessoas podem aumentar a rede de contatos, têm uma audiência imediata perante as suas comunicações e muitos sentem que é uma forma gratificante de combater a solidão e estabelecer novas ligações. No plano empresarial as redes sociais funcionam como uma forma de criar brand awareness, divulgar os produtos e realçar os valores. As marcas tornaram-se mais humanas e próximas dos consumidores, com interação através de comentários, concursos e perguntas, podendo maximizar os lucros através de uma campanha que seja partilhada por milhões de pessoas em pouco tempo.

Deveria haver uma fiscalização rigorosa para a evolução da tecnologia?

Perdeu-se um pouco a noção do que é a recolha de dados inteligente vs a invasão total do espaço alheio. As pessoas continuam vulneráveis e acho que ainda há muito para evoluir nesse campo. O problema da fiscalização são alguns dos exemplos da aplicação da mesma, como na Rússia, onde as pessoas podem ser presas por guardarem imagens que apelem à ofensa de sentimentos religiosos ou homofobia. Na China, a Great Firewall, que limita totalmente o que as pessoas no país estão autorizadas a ver, ou o programa PRISM na América e a polémica da NSA, que denuncia a violação total dos dados dos consumidores.

Considera positivo o surgimento da Inteligência Artificial?

A Inteligência Artificial é uma evolução natural e muito útil para a nossa espécie porque pode ajudar a gerar maior produtividade e as experiências tornam-se cada vez mais adaptadas aos utilizadores através de machine learning. No marketing digital, contribui para análises do perfil do utilizador e campanhas mais direcionadas, o que melhora naturalmente as experiências de navegação, nomeadamente os chatbots, programados para interagir com visitantes ou realidade aumentada com o objectivo de aproximar o consumidor do produto antes da compra.