Entrevista a Pedro Monteiro

06-01-2016 15:21

(Fotografia tirada por Tiago Miranda)

Os novos desafios do jornalismo necessitam de respostas rápidas devido ao aparecimento das plataformas digitais. A evolução da tecnologia não causou apenas uma diminuição nas receitas que ameaça o papel. Existem várias questões, como a qualidade do trabalho, que têm de ser colocadas sob pena de qualquer pessoa ter acesso à profissão. O Gestor de Inovação Digital do Expresso e responsável pela equipa que criou a aplicação Snapchat, Pedro Monteiro, aceitou responder às dúvidas do OLHAR DIREITO. A aposta nos meios digitais deve ser forte, mas sem perder a missão principal do jornalista.        

 

"Os meios tecnológicos permitem cumprir a missão de informar as pessoas"

 

Como nasceu a ideia do Snapchat?

As recentes eleições legislativas surgiram como uma desculpa para avançarmos com o Snapchat, embora tenha havido algumas conversas relativamente ao assunto. A ideia principal passava por acompanhar a campanha eleitoral durante um mês, explorar e obter feedback por parte dos jovens. As pessoas queriam estar informadas. Fizemos o lançamento no dia 4 de Setembro, um mês antes das eleições. Quando chegámos ao final das eleições o número de pessoas que aderiram deu continuidade ao projecto.

Como funciona?

A partir do momento em que nos adicionam como amigos as histórias que partilhamos são visíveis para todos. Temos tido bastante adesão à aplicação. As pessoas podem meter vídeos e fotografias. Estamos perante uma rede social que permite a uma pessoa explorar a linguagem e o meio com liberdade.

O que pretendem alcançar com a aplicação?

A aposta que está por detrás do projecto são duas. Em primeiro lugar, explorar com alguma fertilidade meios novos de distribuição digital e não apenas as redes sociais. Gostava de explorar novas aplicações digitais de forma rápida. O segundo é a aprendizagem sobre a forma como os mais jovens utilizam a informação porque são o futuro do jornalismo. Nesse sentido tem sido uma viagem interessante. Temos tido várias conversas com pessoas mais novas relativamente à utilização dos meios de comunicação tradicionais.

Como analisas a evolução tecnológica no jornalismo?

A integração da tecnologia no jornalismo não é recente. Há imenso espaço para explorar e aprender. Será importante perceber como as redacções que não têm dinheiro vão conseguir explorar os conteúdos. Não podemos continuar a correr por trás devido ao aparecimento de novos players que nos tapam. Temos de ser capazes, de maneira sustentável, fazer experiências e aprender para explorar o que realmente interessa.

Qual é a verdadeira função da tecnologia?

A tecnologia serve para informar os leitores consoante o lugar em que se encontram. A grande revolução tecnológica não está ligada ao jornalismo nem à informática, mas relacionada com a distribuição. Os meios tecnológicos permitem cumprir a missão de informar as pessoas.

Quais são as vantagens?

As pessoas estão habituadas a pensar em jornalismo de duas maneiras. Em artigos e vídeos. O artigo é um texto ilustrado com uma fotografia, enquanto o vídeo tem um formato. Nos nossos dias as plataformas acabam por dar voz à forma como o jornalista conta a história.

A tecnologia coloca em risco o jornalismo qualificado?

A tecnologia não origina trabalho pouco qualificado. Alguns jornalistas são resistentes à introdução de novas formas de trabalhar por razões culturais. Isto poderá resultar na pouca apreciação do uso destas tecnologias para a prática de jornalismo e, consequentemente, relegar para pessoas menos experientes o uso das mesmas. O resultado poderá ser 'menos profissional'. Agora, um jornalista experiente, fazendo uso das novas tecnologias, com o fito de melhor servir a sua história produzirá sempre jornalismo de qualidade (embora possamos ter, obviamente, períodos de aprendizagem com resultados menos bons). Ou seja, o jornalismo mais ou menos qualificado é reflexo das capacidades do jornalista e não da tecnologia.

Os jornalistas têm de estar presentes nas redes sociais?

Vamos ter que dominar as plataformas de comunicação, bem como os conteúdos inseridos nelas. Também é positivo a maioria dos jornalistas estarem presentes nas várias ferramentas.

Será possível construir uma aplicação portuguesa para servir o jornalismo?

Tem acontecido pouco. O meio é pequeno demais, além de haver dinheiro a menos para produzir plataformas caras nesta área. No entanto, em termos de redes sociais é possível.